top of page
Head.jpg

projeto para desenhar o chão

A preocupação com o espaço é uma constante na obra de Lygia Eluf. Se olharmos para o conjunto de sua produção, vemos um interesse contínuo nas várias possibilidades de construção do espaço, especialmente através do uso da cor. Nesta exposição, esse interesse assume novas vertentes. Tanto o título da exposição (projeto para desenhar o chão) quanto o relato da artista sobre a gênese do conjunto de desenhos apresentados apontam para uma experiência: caminhar, olhar para o chão (e também para cima, apesar de não mencionado). Tudo isso pode soar apenas como uma vivência quotidiana – o que de fato é – mas os resultados trazidos por estes desenhos mostram algo mais profundo. Neles vemos um espaço em formação, que se revela aos poucos ao olhar atento. Problema antigo no mundo das artes, é certamente difícil encontrar uma linguagem que dê conta de uma experiência que é, ao mesmo tempo, pessoal e objetiva, mais ainda uma vivência tão desconcertante como o estar no mundo.

O espaço do vivido é muito diverso daquele das ciências naturais. Não há uma coerência dos fenômenos objetivos, mas sim, um conjunto imbricado, no mais das vezes confusos, de relações do longe e do perto, do tangível e do intangível, do familiar e do estranho. Trazer tudo isso para o mundo das artes do desenho não é de todo simples. Apesar de haver uma relação íntima entre imagens, o espaço e a “presença” (Foucault, comentando um importante texto de L. Binswanger, lembra uma frase de Stefan George: “Espaço e presença [Dasein] estão apenas na imagem”), a proposta de Lygia Eluf não é das mais corriqueiras. Não se trata de representar o espaço nem a experiência pessoal, mas talvez de encontrar os meios para que a experiência aconteça nos desenhos.

Esses novos elementos aparecem nos desenhos que vemos aqui e nunca temos a certeza de como olhar para eles: como janelas para o mundo, como vistas aéreas, como uma intersecção entre a terra e céu. A vontade é olhá-los, às vezes, de cima para baixo, no chão; em outros momentos, pendurados na parede, ou ainda no teto. Ou, muitas vezes, um mesmo desenho nos traz experiências variadas: algo que afunda, que emerge e salta e logo foge. A vitalidade das cores tem aqui um papel fundamental: é através dela que o espaço acontece. Não se trata de um mero jogo, mas sim, de uma exigência que a obra nos traz: olhá-la, com atenção, rever nossas miradas sobre o mundo, aprender a, de fato, ver.

Paulo Mugayar Kühl

_FCF7048-ACR Crop.jpg
bottom of page